A gestão participativa

Numa empresa, o ato de trabalhar é também um contrato psicológico de desejos.

Luís Eduardo Carvalheira de Mendonça

Trabalhar com Recursos Humanos (RH) é, certamente, a mais desafiante das tarefas dos profissionais de administração. A razão é muito simples: toda e qualquer intervenção nesta área gera expectativas e cria ansiedade. Enfim, envolve emoção e posicionamento dos atores participantes.

Por esta razão, por mais que se queira aproximar o trabalho de RH com o de recursos fianceiros, materiais ou tecnológicos, há sempre esta grande separação: mexer com RH é mexer com o homem e trabalhar com pessoas é trabalhar com desejos e emoções individuais e coletivas.

À luz deste entendimento podemos ver que, em uma empresa, o ato de trabalhar, além de um contrato jurídico, encerra também, um contrato psicológico de desejos, expectativas e de carreira.

Mas se essas razões acima não fossem suficientes para se pensar um novo modelo de gestão, com certeza existiriam pressões de atualidade a partir do mercado, do perfil da mão-de-obra ofertada e no espaço dos concorrentes, como que exigindo nova postura das empresas face aos RH.

No âmbito dos concorrentes, por exemplo, o cenário atual e futuro mostra que a concorrência tenderá a ser uma prática usada com mais intensidade e, sem dúvida, sairá melhor quem tiver maior índice de produtividade, for mais inovador e seja mais avançado em termos de domínio tecnológico.

Por outro lado, no que diz respeito à mão-de-obra, os segmentos empresariais mais dinâmicos já sinalizam que os recursos humanos ofertados no ambiente trazem novos valores e novas aspirações tanto no campo subjetivo, como no social.

Já no que concerne ao consumidor, mudanças significativas também vêm ocorrendo. Ele tende a se tornar mais exigente e nesse sentido colocará para as empresas o desafio de oferecer produtos com melhor qualidade por um lado e, de desenvolver uma mais apurada consciência de responsabilidade social, por outro.

Ora, esses desafios colocados pelo ambiente empresarial atual não podem ser resolvidos e enfrentados somente com iniciativa e medidas do capital, do empresariado. É preciso o envolvimento, o engajamento e a motivação dos RHs. E não somente deve o empresariado buscar esse aliado com eventuais estímulos financeiros e salariais. A forma, o estilo e a maneira de firmar essa parceria é que têm de mudar. Há que se desenvolver uma nova tecnologia de gestão da mão-de-obra e, com certeza, a gestão participativa é um fecundo e rico caminho a ser precorrido.

Luis Eduardo Carvalheira de Mendonça é Mestre em Administração, e autor do livro “Participação na Organização”. Artigo publicado no Editorial do Jornal do Commércio – PE, 22 de abril de 1992.