Capítulo 3 terça-feira, fev 5 2008 

Em sua casa no bairro Ogiva na pequena cidade de Cabo Frio, interior do Rio de Janeiro, para onde tinha se auto-exilado, Nilton assistia pela enésima vez o filme BOPE – Tropa de Elite, acompanhado por sua companheira de todas as horas, Márcia. A cena que mais prazer e lembranças lhe traziam era quando os meliantes eram ensacados e cantavam como passarinhos, pena que não sabiam voar, aquele recurso lhe fora muito útil em sua carreira de Delegado da Polícia Federal. O filme também lhe trazia más recordações, fantasmas insepultos, a cena do jovem queimando nos pneus, o rosto do “Baiano” lembrava muito o Elias “Maluco” que tinha feito a mesma barbaridade com seu amigo o jornalista Tim Lopes, a cena era bem verossímil, Elias e Baiano também se esconderam como animais após suas valentias, pena que o Cap. Nascimento não encontrou o “Maluco”, poderíamos estar economizando dinheiro bom.

Depois desse episódio, Nilton preferiu se transferir para o interior, não conseguia conviver com a frustação, a sensação de impotência, apesar de ser o melhor investigador do Departamento, fora diversas vezes preterido por não admitir tons de cinza nas suas tarefas.

Capítulo 2 segunda-feira, fev 4 2008 

Enquanto isso em seu apartamento de cobertura, com vista para o mar da Praia de Boa Viagem em Recife, o Chefe contempla a obra de Deus, o oceano, desde criança admira o mar, imenso, soberano, plácido ou revolto, enfimseu próprio senhor, não se dobra aos caprichos do homem. Da janela da sala podia ver ao longe as luzes dos barcos ancorados no Porto de Suape de um lado e do outro os famosos arrecifes formando a muralha que dá nome a cidade. Olhando para o horizonte, imaginava seu povo, escravizado, sendo transportado como coisa, vindo da Mãe África em navios negreiros, vendo o sol somente quando desembarcavam em Porto de Galinhas, assim chamado devido ao apelido dado pelos traficantes que desafiando a proibição do tráfico, essa imagem trazia lágrimas e uma profunda tristeza, nessas horas só o abraço quente de sua amada o fazia relaxar, mas naquele dia, especialmente, nada o faria relaxar com mais vigor do que o toque do celular, um toque, o sinal de que tudo correra bem e poderia dar o próximo passo.

Capítulo 1 segunda-feira, fev 4 2008 

Finalmente conseguiram entrar no hall, apenas um lance de escada os separavam do seu objetivo, apesar do contratempo para quebrar a tranca da entrada principal ainda estavam no horário.

Subiram os degraus, de dois em dois, a brisa suave que soprava naquela noite paulistana podiam sentir o suor escorrendo pelo rosto, sabiam que o Chefe não toleraria um terceiro insucesso, da vez anterior foram filmados e serviram de chacota.

Pronto, após vencerem os degraus, seguiram pelo corredor parcialmente iluminado, a companhia energética tinha ameaçado o corte caso o consumo continuasse alto, sendo assim o Administrador Financeiro determinou que nos corredores fossem reduzidas as lâmpadas, ficando uma acessa e duas apagadas, fato esse que deixara o Chefe mais animado, dessa maneira as imagens das câmeras seriam prejudicadas. Aliado à suspensão do contrato de manutenção dos serviços dos sensores de presença tornando o serviço um passeio no shoping.

Uma pequeno esclarecimento segunda-feira, fev 4 2008 

Está é uma obra de ficção. Nomes, personagens, fatos e lugares são frutos da imaginação do autor ou usados de modo fictício. Qualquer semelhança com fatos reais é um devaneio do autor.